O dia era 13 de Dezembro de 2009, já está para completar 1 ano que este fato ocorreu; entretanto, sempre que contava para as pessoas, eu era chamado de louco e até mesmo obsessivo por histórias de ninar.
Eu e o Júlio havíamos combinado na Sexta-Feira de passarmos o fim de semana na praia, algo entre amigos; como iríamos para a praia de Maresias, pensei em chamar a Luciana, que aceitou o convite sem pensar duas vezes. No Sábado de manhã, as malas já estavam todas arrumadas no carro e partimos logo as 7 da manhã, afinal, quanto mais cedo sairmos, mais cedo chegamos lá!
A viagem foi tranquila, não havia muito trânsito e a temperatura estava amena, não estava aquele calor escaldante. Quando chegamos, tratamos de abrir toda a casa; ela já estava limpa pelo fato de quando a alugamos, o proprietário já disponibilizou uma empregada para a limpeza; sem dúvida alguma a casa estava impecável. Quando o relógio marcou 12 horas, já estava tudo arrumado e pronto para que pudéssemos sair e nos divertir.
A porta dos fundos dava de cara com a praia, água cristalina, areia branquinha, quase ninguém na praia; foi admirando a paisagem que ouvi um enorme rugido vindo detrás de mim, num pulo me virei para ver o que era, então escuto o Júlio dizendo:
-Caraca! Isso fui eu? Pessoal, acho que a gente vai ter de sair para comer alguma coisa; meu estômago já está rugindo em protesto!
Em poucos minutos, estávamos prontos para sair para um restaurante e comer algo. O único ruim da casa era a sua localização; haviam outras casas próximas, mas para chegar ao mercado e padaria e o centro da cidade deveria se dispor de carro por causa da longa distância. Encontramos um local que se assemelhava a um bar de happy-hour e serviam almoço também; sem dúvida alguma paramos lá. O local era bem interessante, haviam redes de pesca penduradas na parede, as paredes eram revestidas com madeiras, o que dava a impressão de ser a parte interna de um barco; as cadeiras se assemelhavam a barris, mas eram muito confortáveis; nos sentamos na mesa e logo fomos atendidos.
Estávamos almoçando e conversando quando uma risada alta vinda do balcão nos chamou a atenção.
-Ora Valter, você bebeu cerveja amanteigada de novo, creio que pela sua história foi o rum com muita cerveja! Isso não existe! -o dono do bar disse para um senhor sentado no balcão-.
-Estou dizendo a verdade Luís! -o senhor disse- Não estou delirando! Eu vi ela nadando perto do meu barco! Se eu não acelerasse a pobre Dançarina, eu ia parar sabe aonde?
-Aonde? -o dono perguntou com um olhar de ironia-.
-No fundo do mar! Estou dizendo, essas amaldiçoadas não estão me deixando pescar!
-Valter, acho melhor você e a Dançarina se aposentarem!
-Jamais! A Dançarina é o melhor barco de pesca de toda a costa, e eu não sou tão velho para me aposentar.
O senhor disse esta última fala em um tom alto e nervoso, se levantou e saiu marchando do bar.
Pensamos que era uma simples história de pescador e que o senhor já estava ficando maluco, talvez a idade e o excesso de Sol na careca. Voltamos para casa e ficamos na praia até o entardecer; depois, decidi ir até a padaria pegar alguns pães e frios para comermos. Peguei o carro e fui sozinho até a padaria; lá, encontrei novamente o mesmo senhor, sendo repreendido pelo caixa, que dizia que ele estava ficando louco e inventava histórias por não ter conseguido pescar nenhum peixe.
O velho ficou do lado de fora, olhando para o céu e praguejando tudo e todos; foi quando puxei conversa:
-Boa noite! Tudo bem com o senhor?
-Sim! Eu não te conheço! Ou conheço e não me lembro?
-Não me conhece, mas é a segunda vez que o encontro hoje! A primeira foi no bar durante o almoço.
-Ótimo, mais um que vai me chamar de louco!
-Não, não! Gostaria apenas de saber o que aconteceu para que dissessem isso do senhor!
-Sereias, meu jovem, sereias! Elas estão perto da praia só observando a gente; mas esse bando de céticos não acredita!
-Hum, interessante!
-Você não acredita, não é?
-É um pouco difícil de acreditar, mas não impossível!
O velho saiu batendo os pés e entrei no carro e fui para casa. Lá, tomamos um belo café, rimos muito e assistimos um filme no dvd. As 23, o pessoal foi se deitar e eu continuei na sala assistindo TV; estava passando um filme interessante no canal 5 e me perdi no clímax do mesmo. De repente, escutei risadas vindas do lado de fora, olhei pela porta de vidro e não vi ninguém; elas vinham da praia e pareciam ser de mulheres.
Depois de um tempo, as risadas cessaram e voltei a ver o filme; mas ouvi algumas mulheres chamando aqueles que as ouvissem. Sem pensar duas vezes, fui até a praia e procurei de onde estavam vindo. Não encontrei nada nem ninguém; quando me virei, ouvi o som de algo saindo da água, me virei e lá estava ela, uma bela jovem de cabelos louros, olhos esverdeados bem claros, seios voluptuosos e uma cauda escamosa!!!
Com o susto, caí no chão e fiquei sem movimento algum, nem mesmo conseguia dizer uma só palavra.
-Não se assuste! Finalmente alguém veio até aqui! Estamos há tempos tentando fazer com que viessem nos ver! -sua voz era suave e angelical- Venha aqui!
-N-não! E-eu v-vou acordar daqui a pouco! Isto é um sonho!
-Sonho? -ela me fitou com olhos curiosos- Você está acordado! Venha!
Ela gesticulou com as mãos em um sinal de que eu me aproximasse, minhas pernas criaram força e me aproximaram dela sem minha vontade. Eu me sentei e ela deitou sua cabeça em meu peito; parecia querer dormir nele, sua respiração era muito calmante e nem parecia que ela estava deitada sobre mim de tão leve que era.
Em um movimento lento, ela se aproximou de meu rosto e beijou meus lábios, passou a mão pelos meus cabelos e então decidi me juntar a ela. Nos beijávamos como se não existisse tempo nem outras pessoas no mundo; quero dizer, outras pessoas e sereias!
Uma música se iniciou ao fundo, e quando abri os olhos, haviam sereias nos observando e cantando, não havia instrumento algum, apenas suas vozes me levando ao êxtase e à um prazer estranho, diferente de tudo que havia sentido. A sereia parou de me beijar e passava as mãos sobre meu peito com extrema gentileza; quando me dei conta, a maré havia subido e havia coberto metade de meu corpo e ainda continuava a subir.
-Pare! A maré está subindo, tenho que sair antes que me afogue!
-Já vai meu amor? -ela disse calmamente- Fique mais um pouco!
Eu recuperei meus sentidos e me levantei, rapidamente, ela segurou meu braço com força e a leveza que sentia antes, se tornou como uma pedra muito pesada; eu não conseguia me mover, então, as outras sereias mudaram o tom de sua canção e a maré começou a subir rapidamente, em poucos segundos minha cintura estava submersa.
Eu consegui me soltar da sereia e comecei a correr; a música então, começou a entrar pelos meus ouvidos, fazendo com que meus pensamentos se tornassem lentos e meu corpo pesado. Com muito sacrifício entrei em casa e fechei as portas; tirei a roupa e me deitei na cama. Naquela noite, sonhei com a mesma sereia me chamando por outro nome, eu me encontrava em uma embarcação e ela nadava em volta de mim e dizia:
-Quando você volta?
-Volto assim que puder meu amor! Eu te amo, minha querida!
-Mas queria que ficasse comigo a partir deste momento!
-Não posso; não ainda! Tenho uma última viagem a fazer, assim que terminar voltarei uma vez mais ao mar e deixarei que me leve com você!
Na manhã seguinte, acordei com Júlio e Luciana mexendo na cozinha, me levantei com uma enorme dor de cabeça. Eu me mantive longe da praia o dia inteiro, no fim da tarde, arrumamos as malas e fui dar uma última olhada no mar.
Lá encontrei um grupo de pessoas vestidos de branco colocando pequenos barcos de madeiras na água, me aproximei para ver o que era; os barcos estavam repletos de pulseiras, colares e até mesmo flores, todos cantavam muito alegremente seguidos do som de atabaques.
Júlio se aproximou e disse que devíamos partir antes que ficasse mais tarde e que não devíamos atrapalhar a oferenda deles. Muito curiosamente, perguntei para um senhor moreno e alto o que estavam fazendo e ele me respondeu:
-Estamos fazendo oferendas ao mar e as sereias!
-Oferendas para Iemanjá, certo? Minha família era grande devota dela!
-Não meu rapaz! A oferenda dela já foi entregue no dia 8, hoje é dia dos marinheiros! E a oferenda está sendo feita para uma sereia em particular.
-Jura?
-Sim! Esta sereia é especial para nós, ela tem uma história muito triste.
-Poderia me contar?
-Há alguns anos atrás, havia um marinheiro que fazia viagens com sua embarcação para a venda de produtos de uma região à outra da costa brasileira. Certa vez, ele encontrou uma linda sereia loira e bela, era a criatura mais bela que ele já havia visto; sempre que ele partia para o mar, viajavam juntos e se amavam, até que um dia, ele pediu permissão para Iemanjá e ela aceitou o pedido.
-Que pedido foi esse?
-O de se casar com a sereia que amava. Eles se casaram, de fato, e ela pediu que ele fosse morar com ela no mar, porém, ele disse que tinha uma última viagem de mercadorias para fazer e que quando terminasse, seria dela pela eternidade. Mas quando chegou em seu destino, um grupo abordou o marinheiro e além de roubarem as mercadorias, eles o assassinaram. Assim, ele nunca pode voltar para sua amada, e todos os anos, ela vem até esta praia, onde o seu amor a encontrava e pergunta aos pescadores se seu amor ainda vive; aqueles que dizem que não, são castigados sem nenhum peixe na rede e o terrível canto.
-Mas por que dia 13?
-Porque é o dia é o mesmo em que o marinheiro nasceu, o mesmo dia que a encontrou e o mesmo dia da sua morte.
-Então, ela vem aqui e espera pelo seu amor?
-Sim! E dizem que o homem que ouvir seu chamado e se deitar com ela mais uma vez, será puxado para as profundezas; pois este mesmo homem é a reencarnação do marinheiro.
-Que estória maluca!!! -Júlio disse rindo- Vamos embora!
Rapidamente nos dirigimos ao carro e fomos embora. Desde então, tento contar minha história e as pessoas não acreditam.
Aqueles que em mim acreditam, agradeço; os que não acreditam, agradeço também por terem me ouvido. Mas queria agradecer também ao dono deste Baú por me ceder espaço e dar a possibilidade de contar minha história, a história do meu amor!
Escrito por Felipe M.